" LENDAS E NARRATIVAS " DO AUTO DOS TURCOS DE CRASTO-TURQUIA
O mês de Agosto, para as gentes de Crasto-Ribeira é sinal de festa do senhor da Cruz de Pedra e como tal, de representação do Auto dos Turcos de Crasto-turquia.
Assim foi durante muitos anos e quando não havia representação, como este ano, bem que os festeiros se esforçavam, reforçando o programa da festa, com a contratação de mais uma banda de música, mas nem assim as pessoas ficavam contentes e diziam mesmo, que festa sem Turquia não tinha o mesmo valor!
Os tempos mudaram, o progresso, também pode significar o fim para uma tradição como aquela que se vivia em Crasto por esta altura.
Contudo, nada melhor do que recordar esses tempos, para que não sejam esquecidas as tradições e para que não se apague da memória, o carinho, empenho e dedicação que a festa da Cruz de Pedra merecia dos populares de Crasto-Ribeira.
Assim, gostaria de partilhar algumas peripécias que se viveram nesta terra em anos de representações e que foram sendo cobertas pelo pó do tempo, mas que continuam bem guardadas no baú das memórias dos nossos pais e avós.
Conta-se que neste lugar, viveu em tempos um tal de “ Pilauta”, homem franzino, sempre acompanhado com o seu barrete de campino, verde e vermelho na cabeça, não fosse ele um aficionado da Vaca das Cordas, embora nunca a tivesse conseguido”botar à unha”, pessoa de parcos recursos, mas rico em honestidade e lealdade, coisa que hoje vai sendo cada vez mais raro.
O “Zé Pilauta”, apesar de ser homem para percorrer muita légua de estrada a pé, chegando a Viana ou Famalicão, sofria de uma doença que o afectou em pequeno, o cansaço. Estava sempre cansado, não tivesse ele sido o último almocreve conhecido por estas bandas.
Mesmo assim, “Pilauta”, não deixou de representar na Turquia e segundo dizem, fê-lo de tal forma empenhada, que quando caiu no chão “basado” por um tiro, apesar da insistência dos populares dispostas em atrapalhar-lhe o papel, gritando aos berros de “ levanta-te Pilauta, que vem a camineta”, foi incapaz de lhes dar ouvidos, mantendo-se deitado no chão, como morto.
Mas a insistência era tal, que na simplicidade da sua pessoa, sentiu-se tentado a confirmar se realmente isso era verdade; Levantando ligeiramente a cabeça e franzindo o sobrolho, vendo que tudo não passava de uma partida, ficou de tal modo incomodado, que respondeu ” – Porra, não bendes que estou morto?”
E assim ficou conhecido um turco que de outra forma teria passado despercebido, como o foram muitos outros.
Passados muitos anos, ainda esta peripécia servia de mote para muitas rizadas à volta de umas malgas de verde tinto, na taberna da Zefa do Rei, quando os amigos lhe pediam para contar como tinha sido a história,” quando morreste na Turquia de Crasto”.
Apesar de ter muitos amigos, morreu na simplicidade da sua condição e ao que se sabe, os únicos que verteram uma lágrima pela sua morte, foi o João da mena, os sinos da Ribeira e um ou outro fidalgo das redondezas.
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