A TERRA DE PONTE: OS 100 ANOS DE ANTÓNIO VIEIRA LISBOA









domingo, 3 de agosto de 2008

OS 100 ANOS DE ANTÓNIO VIEIRA LISBOA

vista posterior da casa da Garrida, onde viveu o poeta até à sua morte em 1968


Carta de uma mulher


António, eu não podia assim ser tua…
E não julgues que fujo ao Amor que me cerca.
Por Ti, a minha carne moça estenua…
Se me retraio, é só… para que não Te perca.

No modo como me olhas, o Corpo estremece.
Nos olhos vejo o meu Desejo que avassala
e o tom da Tua voz, a minha carne aquece…
e quasi tonta, a Tua fala
oiço-A sonâmbula
d’olhos fechados, para ouvir na treva
como magia ou Sonho que me enleva
como carícia ou musica noctâmbula
em que o meu coração se depura e se esquece.

No entanto, eu não podia assim ser tua…
E resisti – nem sei como – a esse impulso!
Quanto sofri!...mas, o homem tudo desvirtua
e, já talvez me visses, com olhar repulso.

António! Eu sei que Tu és diferente
Que te magoo até no que estou a dizer-Te…
Mas sou mulher e como incoerente
Não sei que faça para não perder-Te.

Não é só o medo de entregar-me que me impede.
Sou tua desde o tempo em que Te sonho…
E enquanto possa me estonteio neste Sonho
Até desfalecer completamente nua
Com Alma e Coração à flor da pele.

Tão longe Te julguei… como alto Te ponho,
Mas, a Ti junta como um fruto incônho,
no modo que me der, que ninguém Te possua
e o ímpeto de Alegria o Amor Te revele.

Talvez eu seja quem mais sofra de nós dois…
Inda não sei esperar sem que me lembre,
Mas quando tua for…logo…amanhã…depois…
guarda-me para sempre.

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