Gonçalo António Pereira
Mal chega o mês de Setembro e todos nós somos levados pela folia que há-de vir com as Feiras Novas.
As festas, sempre representaram muito para as gentes de Ponte de Lima, mas para que tenham a importância e a grandeza que todos conhecemos foram precisas muitas horas, anos a fio de trabalhos para que a grandeza das festas fosse sendo cada vez maior e como tal merecedoras da distinção de que hoje gozam, a mais tradicional das romarias do Minho.
No início do século, uma figura deu um contributo importante para que se chegasse a este estatuto, refiro-me ao Gonçalo António Pereira, mestre exímio na arte de iluminador, que graças ao seu empenho, saber e habilidade permitiu que Ponte de Lima e as suas festas se tornassem conhecidas em todo o país.
Delfim Guimarães, na sua obra “O Rosquedo”, teceu-lhe os mais rasgados elogios, ao ponto de o integrar como uma das personagens desse livro, dizendo o seguinte: … é que alem da vila se prestar como nenhuma outra, há em Ponte de Lima um homem que tem dedo especial para a coisa: O Gonçalo, barbeiro modesto, enfermeiro dedicado, dentista de rijo pulso, amolador afamado e iluminista como nenhum outro, fazendo dos balões, copinhos e tigelinhas, uma engrenagem maravilhosa, produzindo resultados feéricos.
Se o Gonçalo não existisse, não haveria iluminações em ponte certamente e era uma vez o S. João mail’as Feiras Novas!
E continua descrevendo o magnifico trabalho produzido pelo Gonçalo Pereira nas festas do início do século: … A rua do Souto deslumbrava. Era um túnel perfeito jorrando luz. Os “copinhos”, de diversas cores dispostos em arcos de madeira, colocados de dois em dois metros, multiplicavam-se extraordinariamente, e a rua do souto, pequena e estreita, tomava aos olhos maravilhados dos forasteiros as proporções da avenida do palácio de Cristal em noite se S.João. De dois em dois arcos, suspensos de fios de arame, pendiam assadores de castanhas com os buracos cobertos de papel de cores variegadas e iluminados por uma tigelinha de sebo, …
A arte e mestria deste Limiano, haveria de ser reconhecida fora de portas e em 10 de Dezembro de 1903, o Gonçalo rumava à capital do império para mostrar, na avenida da Liberdade durante a visita a Portugal do Rei Afonso XIII de Espanha a beleza das iluminações à moda do Minho, tendo aí obtido um enorme sucesso.
Em 3 de Maio de 1908, Gonçalo António Pereira foi admitido como sócio Nº22, da Associação dos Socorros Mútuos dos Artista de Ponte de Lima, tendo permanecido até à sua morte.
Em 14 de Setembro de 1916,no Jornal Cardeal Saraiva Nº 259, podemos ler a seguinte noticia sobre as Feiras Novas:
Grande e fantástico arraial, já hoje considerado um dos primeiros do Minho, com iluminações Arte-nova, sobressaindo a da avenida 5 de Outubro que graças à reputada competência e aprimorado bom gosto do iluminista local, Sr. Gonçalo António Pereira, despejará fachos radiantes de luz viva, bem como no passeio Cândido dos Reis, rua Torre de S. Paulo e largo da Matriz, que também ostentarão uma artística e bem disposta iluminação. Ponte de lima tem-se esquecido de recordar pessoas simples mas que tiveram um importante papel para o engrandecimento desta terra.
E Gonçalo António Pereira tem sido uma das vítimas desse esquecimento, assim como muitos outros.