A TERRA DE PONTE: maio 2008









domingo, 25 de maio de 2008

TRIBUTO AO POETA ANTÓNIO VIEIRA LISBOA

NEM QUERES VER-ME

Nem queres ver-me…
e tenho pena, muita pena. É ainda cedo
Para acabar.

Se tu quizesses ver-me!

Mas é de Ti que vem o mêdo
Ou foi por quanto Te disseram?

Pois todas Essas que julguei gostar
ou talvez gostasse
nunca souberam
a si prender-me.

Talvez ficasse numa… e às outras não chegasse,
!?mas todas Elas que fizeram
para reter-me?!

Apenas se deixaram que as amasse…

Todo o esforço
para fixar num ponto a Vida foi só meu.
Nenhuma poude ou quis
saber o que por cada uma fiz.
E o Amor em que me estorço
nunca a nenhuma me prendeu.

E Tu nem queres ver-me!...
Foges-me… e era eu que devia fugir-Te.

Tudo me leva a repelir-Te
Antes que o coração sensível
se tome de alvoroço.
…!Ai mas quero uma vez mais perder-me
do que perder um vago esbôço
de Amor possível!...

António Vieira Lisboa, Poemas de Amor e Dúvida, Livraria Portugália Lisboa

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quarta-feira, 21 de maio de 2008

RECORDAÇÕES EM DIA DE VACA DAS CORDAS

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Foto do blog Parar para pensar

No dia em que Ponte de Lima vai ser invadido por uma multidão de gente vinda de todo o lado para correr com a vaca das cordas, recordo que em tempos mais recuados, esta tradição não era o fenómeno a que assistimos nos dias de hoje.

Tal é a sua importância para Ponte de Lima, que o bicho até tem direito a monumento, em local nobre da vila.

No tempo em que os moleiros estavam obrigados a segurar as cordas e conduzi-lo pelas ruas da vila, garantindo desse modo a corrida do animal, a vaca era trazida do alto dos montes do castelo e S. Lourenço, nas freguesias da Ribeira e Gondufe, para onde era recolhido novamente no final da função.

Era presa ás grades da igreja matriz durante o dia para que a rapaziada e demais transeuntes a fossem embravecendo de forma a garantir uma corrida mais espectacular.

Os tempos mudaram, estas obrigações caíram em desuso, e hoje, o animal é adquirido no Ribatejo, por uma Associação, com o poio do município que deste modo contribui para que a tradição não morra.

Neste dia, não posso esquecer duas ou três pessoas, que em dia de Vaca das Cordas, se transformavam em verdadeiros campinos, refiro-me ao “Zé Pilauta”, em tempos mais recuados e mais recentemente, ao “Zé Morais”, o Zé Pequeno, que tanto contribuiu para que a tradição se mantivesse, ajudando o sr. Alcino e que tem sido afastado das luzes da ribalta.

Na verdade ele não era de se chegar à frente para receber louvores ou elogios, mas estava sempre na primeira linha para garantir a tradição ano após ano.

Outra figura era o “Zé Micamé”, que eu admirava na minha infância com a coragem e bravura que demonstrava ao pegar o touro de caras em pleno areal, dando assim um brilho especial à corrida de touros à moda de ponte de Lima.

A todos eles e aos actuais responsáveis pela corrida Ponte de Lima deve uma vénia, pela dedicação e empenho.

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sábado, 17 de maio de 2008

TRIBUTO AO POETA ANTÓNIO VIEIRA LISBOA


Se eu morresse amanhã


Se eu morresse amanhã

diria em minha Aldeia todo o povo:

«Uma pessoa assim tão sã

que pena!... Moço tão novo!»

E a boa gente em triste compostura

iria em passo lento e tom funério

Acompanhar-me à sepultura

do velho Cemitério

E o meu vizinho, filho d’Algo e perro

porque faz pó o meu buick lesto

de fraque preto iria ao meu enterro

cheio de si e do seu gesto.

E Aquela que a sorrir me dilacera

e torna a minha Vida quási vã

tinha remorsos do que me fizera

se eu morresse amanhã.

Mas eu morro de velho e à passagem

que todos digam em voz alta:

Feliz viagem.

Já não fazia falta.

Do livro: poemas de Amor e Dúvida, livraria Portugália, Lisboa 1941 (28,29)

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